terça-feira, 14 de abril de 2009

O deus de todas as coisas


No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus pairava sobre as águas. E Deus disse “Fiat Lux!” e a luz foi criada. Viu que a luz era boa e então separou o dia e a noite. Criou o sol para iluminar o dia e a lua para acompanhar a noite. Criou também um enorme e belo jardim, onde depositou sua mais engenhosa invenção: foi posto neste jardim o homem, à sua imagem e semelhança, e a mulher. Ambos irresponsáveis e estúpidos suficientes a ponto de trair Deus com uma maçã.

Expulso do jardim divino, o homem inventou o dinheiro e tentou comprar o perdão, mas acabou ganhando mais dinheiro vendendo maçãs a outros homens e viu que o dinheiro era bom. O homem criou também ciências, religiões, ideologias políticas e vendeu tudo. Passou a cobrar pela luz. Criou a idéia de que o mundo surgiu de um explosivo “Big Bang Bum!” e vendeu muitos livros sobre o assunto. Vendeu também bíblias e outros livros sobre a origem divina do universo, tudo segundo o gosto do freguês. A mulher também percebendo que o dinheiro era bom, consumia futilidades e equipava a cozinha.

A importância do dinheiro cresceu de forma rápida, à mesma proporção que cresce a ganância no coração dos homens. O homem criado por Deus juntou dinheiro e comprou o jardim divino. Deus, sem seu jardim, ficou triste e entristeceu mais ainda quando viu que até seu filho Cristo foi vendido. Com a morte de seu único filho (que não foi esquecido, e sim muito lembrado no meio comercial) criou-se uma série de hábitos para colaborar com o mercado, e durante o tempo da páscoa foi outorgado pelo deus-dinheiro que o bacalhau e outros peixes seriam vendidos bem mais caros. E vendeu muito peixe, carne vermelha e cerveja também.

Quando a terra que Deus criou ficou abarrotada de condomínios, shoppings, choparias, carros modernos e lojas de acessórios, o homem tentou vender a lua e conseguiu. No momento em que o homem foi promovido para a gerência por ser um escravo exemplar do deus-dinheiro, Deus percebeu que perdia espaço para um inimigo pior que o diabo, aliás, até o diabo morria de medo do poder do deus-dinheiro.

Tanto Deus quanto o diabo perceberam que morreriam no esquecimento caso não fizessem algo urgente. Em uma manobra desesperada, Deus criou os vendedores de relíquias. Viagens à terra santa, dízimos, estatuetas, quadros, oratórios e tercinhos abençoados pelo papa foram confeccionados e vendidos para ajudar Deus. O diabo criou a indústria cinematográfica hollywoodiana e filmes pornôs quando viu que filmes satânicos não tinham público, e portanto, não vendiam. Ao final, tanto Deus quanto o diabo já estavam tão habituados com o dinheiro que compraram juntos uma calculadora. Deus abriu uma conta no banco e o diabo foi fazer Ciências Contábeis.

E assim chegou a idéia do apocalipse, que virou filme, musical, álbum de figurinhas, tudo com boa aceitação no mercado. O deus-dinheiro ficou importante e possessivo. Tudo o que vê, compra, vende, troca e faz riqueza.

Um comentário:

  1. bom texto... será Deus mesmo o todo poderoso? o que sei é que sem dinheiro nao fazemos nada. abraços, du, sucesso.

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