domingo, 23 de agosto de 2009

Mais um dia para o resto da vida

Quem não tem medo da vida também não tem medo da morte.”
(Arthur Schopenhauer)

“Talvez amanhã eu me sinta melhor” – pensava solitário no escuro de seu quarto, enquanto via a fumaça do cigarro esvair-se pela janela.
Dessa forma, o jovem desconhecido descansava sua arma na gaveta do criado mudo, e lutava para dormir. Na maioria das noites apenas esperava a claridade do dia chegar e trazer toda a previsível rotina.
Levantava quando o sol deveria estar nascendo, jogava uma água na cara amarrotada, fingia-se animado e entregava-se ao cotidiano. Até seus devaneios suicidas pareciam estar impregnados nos afazeres do dia. Tudo era totalmente previsto. Não havia nada de diferente. Nunca.
Voltava para a casa cansado, tomava um banho como fazia todos os dias, perdia duas ou três horas diante a televisão, e ia para o quarto. Abria a gaveta, pegava a arma que herdara do pai (curiosamente uma arma com apenas um projétil), admirava-a por poucos minutos, brincava apontando o cano para seu próprio ouvido: “clack” – estalava um som com a boca e os lábios. Sem graça e sem ânimo para se matar, guardava a arma e ia dormir, preparando-se para um novo (e igual) dia que irá surgir dentro de algumas horas.
Não suportava a rotina típica de seus dias, mas encarava-a porque a conhecia. Não temia o que conhecia. Temia apenas a possibilidades de mudanças em sua vida. Conhecia o seu cotidiano, aquele que é sempre o mesmo, e isso não o amedrontava. Tinha medo do que não conhecia, do que estava além de sua vida. Mentia quando dizia q não tinha medo da vida.
Talvez por isso morreu de velhice, sem nunca ter tido coragem de puxar o gatilho.

3 comentários:

  1. Lindo seu blog...
    Parabéns !!!!
    Amei seus escritos
    Abraço

    ResponderExcluir
  2. Manolo tu é um suicida? Não que eu esperasse encontrar aqui um texto motivacional e o escambau, mas sei lá, faltou enredo, história. Tenho um amigo que é lunático igual você.
    vlw

    ResponderExcluir