sábado, 19 de junho de 2010

Perto... e tão longe...

Encontraram-se no restaurante Luxor, às vinte e uma e trinta. Quando desceu do taxi, ele já estava sentado em uma mesa de canto esperando por ela. Era a primeira vez que resolviam sair juntos.
Ela se acomodou na cadeira cumprimentando-o:
- Boa noite. Desculpe a demora.
Estaria bem mais a vontade caso estivesse em algum lugar em que o ambiente inspirasse movimento e dança. Estava agitada. Quase queria dançar.
- Você não demorou. – disse ele em tom calmo, disfarçando a ansiedade. Também parecia dançar. Palpitava e disfarçava a insegurança. Com isso seus pés suavam. Queria beber cerveja, mas pediu um vinho.
Após momentos de disfarçada descontração e conversa, as palavras se soltaram com mais facilidade acompanhando o movimento das taças pela metade de Nobile di Montepulciano.
- Estava ansiosa para chegar essa noite.
As palavras da moça poderiam ser substituídas sem prejuízo nenhum por ‘estava com medo desta noite’, ou então por ‘tinha medo de você nunca olhar para mim’, se fosse dizer sobre seu estado de espírito e o medo de não agradar o rapaz. Definitivamente estava linda. Mas sentia insegura disso.
- Eu também – disse ele, disfarçando também a infantil ansiedade.
Comeram um prato canellone, com um molho da casa, riram, beberam, conversaram e deixaram as mãos se tocarem.
Ele com toda certeza ficaria bem mais a vontade em um lugar menos requintado. O ambiente formal em demasia o incomodava. Fazia-o lembrar o trabalho, mas ficou quieto.
Ela partilhava do mesmo pensamento, mas nunca imaginava que por um instante pensava o mesmo que ele.
Pediram a conta.
Saíram do restaurante com o que sobrou da garrafa de Vino Nobile di Montepulciano, entraram no carro dele, e distanciaram-se do Luxor.
Chegaram na casa dela.
Ela desceu.
Ele desligou o carro.
Olharam-se iluminados pela luz da rua. Estavam próximos. Um em frente ao outro. Pertos. E tão longes.
- Então... tenha uma boa noite – disse ele.
Ele não queria que a noite terminasse ali.
- Você também – ela pensava em sexo.
- Espero um próximo encontro – disse olhando para os olhos dela, mas querendo olhar o decote do vestido da moça, imaginando os belos seios tão próximos dele.
- E com toda certeza, teremos um novo encontro – ela respondeu com vontade de dar um gostoso e sensual beijo; mas beijou-lhe levemente a face.
Ele sorriu com vontade de agarrar a moça pela cintura e levantar-lhe o vestido, mas apenas tocou no braço dela.
Despediram-se.
Ela dormiu desejando companhia, e dormiu apenas com a lembrança do rapaz.
Ele queria dormir com ela, não voltar para a casa. Mas foi para sua fria casa e masturbou-se ao invés de fazer amor.
Longes um do outro, já no alto da noite, pensavam um no outro, sem maliciar o entrosamento de seus longínquos pensamentos pessoais, e que estes estavam bem mais próximos do que seus corpos.
Dormiram longe.
Sonharam juntos.

Um comentário:

  1. É impressionante como a vida é parecida sempre..Como as pessoas são iguais...Situações onde dizemos e fazemos coisas que realmente não queríamos fazer...A infinitude de máscaras que trocamos ao passar do dia...A intimidade que queríamos e a facilidade de nos negar isso...
    Belíssimo texto...

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